Em algumas ocasiões discuti desigualdades compensatórias entre homens e mulheres com base em dados do IBGE e do CAGED e, mais particularmente, sobre disparidades salariais entre mulheres negras e brancas no mercado formal brasileiro e em todas as posições.
O Prof. Dr. Marcelo Paixão, do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (LAESER), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com muito mais profundade e consistência, aponta para o forte desequilíbrio ainda existente.
Segundo estudos do referido pesquisador, países distintos se encontram em um mesmo Brasil, cujo IDH – índice de desenvolvimento humano – estimado para os declarados brancos nos coloca na 66ª posição, contra a posição 106 caso o cálculo envolvesse somente os declarados pretos e pardos.
Para compreender a ampliação das desigualdades na América, estudos da revista The Economist apontam para um expressivo aumento dos investimentos privados em educação, por parte dos que possuem maior poder econômico, ao mesmo tempo em que revelam o correspondente declínio dos recursos públicos para a mesma finalidade.
A diferença em educação, associada a outros fatores históricos – entre os quais o preconceito – contribui para ampliar as desigualdades no Brasil e em tantos outros países. Essa ampliação consolida, reproduz e amplifica áfricas em diferentes continentes, línguas e culturas, dando aos negros em geral – inclusive – uma expectativa menor de vida.
É nesse contexto que Paschini assevera que as cotas – embora não sejam suficientes – são indispensáveis em um mundo que privilegia homens, brancos, altos, ocidentais e americanos, tornando “o processo de geração de diversidade e de inclusão extremamente lentos” (PASCHINI, 2006, p. 143), especialmente para organizações que se apresentam como socialmente responsáveis.
Para justificar a necessidade de cotas para negros também no serviço público, a presidenta Dilma salientou que “vivemos um […] período escravocrata, que não acabou com o fim da escravidão”; que o “racismo se tornou uma forma de hierarquização da sociedade e constrói de fato essa hierarquização”, colocando “os indígenas e negros na base da pirâmide” (2013).
Nessa mesma perspectiva, DaMatta, antropólogo e professor da PUC-RJ – por algumas décadas contrário às cotas para negros nas universidades – reconheceu nas mesmas uma medida afirmativa indispensável em um repensar da história e da busca de novos exercícios de cidadania, desta vez mais amplos.
Esse exercício – recomendado por DaMatta – impõe também uma reflexão sobre as TV´s brasileiras que, de uma forma geral, apresentam a Dinamarca e a Alemanha em suas novelas e programas, reservando aos atores negros um papel secundário.
Ajudantes negros, na parte de culinária de alguns programas, são apresentados como serviçais em uma corte européia, traduzindo aquilo que – mesmo inconscientemente – se quer perpetuar como uma forma de cota espontânea.
Embora as cotas, sejam nas universidades, no serviço público, nos partidos políticos e afins não transformem o mundo e nem as pessoas – particularmente no curto e médio prazos – por certo nos levarão a novos exercícios e reflexões sobre um futuro distinto, preso ao passado e ainda presente.
Ouça a entrevista: http://cbn.globoradio.globo.com/programas/jornal-da-cbn/2012/04/27/APROVACAO-DAS-COTAS-RACIAIS-NAS-UNIVERSIDADES-E-UMA-DECISAO-HISTORICA.htm
Leia os estudos sobre desigualdades: http://www.economist.com/news/leaders/21571417-how-prevent-virtuous-meritocracy-entrenching-itself-top-repairing-rungs
Verifique salários de contratação: www.fipe.org.br, opção de ‘índices’ e, ao final, ‘salariômetro’;
PASCHINI, S. EstRHatégia: alinhando cultura organizacional e estratégia de RH à estratégia de negócios. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006.
Sobre as cotas para negros em concursos públicos: http://br.noticias.yahoo.com/dilma-encaminha-projeto-prev%C3%AA-cota-20-negros-servi%C3%A7o-003958558.html
Marcelino Tadeu de Assis
Graduado em Ciências Administrativas, pós-graduado em Administração e em Educação a Distância, além de mestre em Administração e Desenvolvimento Empresarial; 36 anos de experiência em empresas de médio e de grande porte, notadamente em Remuneração, Gestão de Benefícios, Indicadores de gestão em RH, Designação Internacional, Gestão do Ambiente de Trabalho e Desenvolvimento Gerencial; integrou equipes no campo da gestão empresarial, como Ewosa, Losango, Poesy, SulAmérica Seguros e White Martins; atua há mais de 28 anos como professor de cursos de graduação, pós-graduação e de extensão; integra o corpo docente da UNESA e Laboro; atuou na UFJF, FGV, UFRJ, UGF, FEFIS, UNIPÊ, Trevisan-UCAM, FSJ, entre outras; autor de cinco livros; autor de artigos técnicos envolvendo gestão de pessoas, além de palestrante em congressos, seminários e workshops; desenvolveu trabalhos nos EUA, Venezuela e México; conduziu trabalhos no campo do desenvolvimento Organizacional para uniddes no Uruguai, Paraguai, Peru, Chile, Bolívia, Colômbia e Argentina; atuou como diretor de Assuntos Estratégicos do GrupisaRJ; atuou em projetos de RH para diversas Organizações, bem como membro da CERH do CRA – RJ; recebeu o prêmio Belmiro Siqueira durante o Congresso Mundial de Administração; recebeu menção honrosa da ALERJ, por indicação do CRA-RJ; desenvolveu treinamentos para profissionais de grandes organizações, entre as quais TRE (RJ), TST, TRT (PE), Serpro, UnB, SEBRAE, Eletrobras, Petrobras, IBC, Compesa (PE), Renault, Pegeou, SMS (RJ), SEPLAG (PE e RJ), Itaipu Binacional, Correios e SENAC; membro do comitê científico do Congresso Mundial de Administração (2012) e do XIV Fórum Internacional de Administração (2015); atuou nas áreas de Contabilidade, Finanças e Marketing; integra o núcleo de ensino da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação; atua como Coordenador Nacional do CST em Gestão de Recursos Humanos – EAD (UNESA) e como Coordenador da Comissão Própria de Avaliação (CPA).