Como ando numa fase Chico Buarque, estava ouvindo Construção e esse trecho fixou:
“… Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico…”
Fiquei pensando sobre construir e desconstruir. Como essas ações influenciam o emocional de todos os envolvidos e comecei um paralelo com sentimentos, relacionamentos e conhecimentos. Tentei transpor o plano concreto para o abstrato e captar lições de vida.
Quando se constrói algo observamos ali sentimentos de alegria, mesmo quando o trabalho é intenso e envolve o assentar de tijolos, o “virar” de uma laje, o pintar das paredes, etc. Esses momentos são brindados por muitos com sorrisos e festas, todos contentes pela finalização do projeto de ter a construção finalizada. A hora da entrega de um projeto, de ver o resultado final de um objeto ou sistema pensado, e agora pronto para uso.
Construir conceitos e conhecimentos, relações e edifícios são momentos que todos nós gostamos. O verbo construir por si só transmite uma sensação muito positiva. É concreto, é possível pegar, é absoluto, é resultado.
Em compensação desconstruir dói, até porque desconstruir nos remete num primeiro momento a conceitos negativos, pensamos sempre em fracasso, em despedaçar, destruir, apagar… Só de ler, você ficou desconfortável? É essa palavra nos causa um desconforto. Desconfortos sempre nos lembram de que temos de agir. E bem agir nos faz sair da zona de conforto.
Desconstruir um prédio requer atenção e muita habilidade, senão causam-se mais prejuízos. Se quisermos o tijolo de demolição (material caro) temos de desconstruir com cuidado, com o mesmo cuidado com que Chico descreveu o assentamento dos tijolos como um desenho mágico. Esse desconstruir não precisa doer tanto. Devemos levar e reaproveitar tudo o que der, tudo o que estiver em bom estado e deixe a nova construção com um aspecto melhor.
E se desconstruímos um prédio, ali com certeza virá outro e na maioria das vezes mais bonito e imponente. Experiências e conhecimentos adquiridos são importantes para as próximas construções ou até mesmo reconstruções. Os sentimentos vividos mostram caminhos a serem trilhados na busca de mais habilidades e know-how. Então os resultados podem ser ainda maiores e melhores.
Mas desconstruir também pode ser maravilhoso, pois podemos nos livrar de muitas coisas que não estão boas e construir uma nova história, um novo ciclo. Descontruir me remete a palavra despir. E se despir de velhos conceitos, paradigmas, dogmas e crenças, poderá nos aliviar. A carga carregada que muitas vezes não é sua, que impede a flexibilidade e a resiliência não precisa fazer parte das novas construções.
Quando desconstruímos conceitos pré-estabelecidos podemos ter relações mais completas, planos mais amplos e vivências mais prazerosas. Descontrua-se e aprenda sempre, não há limites para o que podemos fazer ou conquistar quando não construímos paredes e barreiras em nossa volta. Amplie os limites construídos em seu entorno, desconstrua e se for preciso reconstruir novos limites que sejam a uma distância maior.