Um profissional de T&D, com quem trabalhei há mais de 20 anos, repetia constantemente uma história de um revendedor de lata de sardinha que, por muitos anos, comprou e colocou à venda o produto.

Em determinado momento, ele – o revendedor – resolveu experimentar o alimento e qual não foi sua surpresa saber que o produto não prestava.  Pegou o telefone e questionou o fornecedor sobre a qualidade das sardinhas e a inadequação para o consumo.

Sem qualquer surpresa, o fornecedor informou que as sardinhas são as mesmas há anos e sempre apresentavam o mesmo problema, achando estranho – de certo modo – a reação do então revendedor.

Essa história ficou sempre em minha mente e, permanentemente, retorna quando vejo profissionais que passam a diante dados e informações que não “experimentaram”,  que não “provaram” e que, em alguns casos, jamais “provariam”.

Por mais surpreendente que possa ser, são muito comuns profissionais que passam um ‘produto’ (um dado / um indicador) para uma outra pessoa por mero impulso burocrático, sem avaliar a qualidade, a consistência ou mesmo os riscos provenientes do uso ou mesmo de uma tomada de decisão.

Muitas pessoas quotidianamente, geram e transferem indicadores, medições, métricas ou dados em geral, envolvendo determinado processo ou serviço, como forma de cumprir uma data, um prazo ou um cronograma.

Não “experimentam” os dados porque não sentem que isso é necessário, porque não sabem da importância das medições de tempo, custo, quantidade, qualidade e satisfação, ou porque não acreditam nos dados – ou no produto – que está gerando.

Embora não exista uma regra, o fato é que a credibilidade de um dado, de um indicador, de uma medição, está associada ao seu uso efetivo por aquele que gera o referido dado.  Aqueles que produzem estatísticas das quais não são usuários, ou com as quais não estão fortemente comprometidos, são fornecedores potenciais de latas estragadas, impróprias para o consumo.  Quando os indicadores são gerados e – sabidamente – não são usados por aqueles que recebem tais números, as latas se estragam muito mais rapidamente.

Essa é uma das razões para a expressão “indicadores de gestão :  Use-os ou deixe-os”!

Em meio a tantas prioridades e demandas internas, em meio ao tempo escasso, não gere dados que não são percebidos como necessários – inclusive por nós mesmos.  Perde-se tempo, cria-se expectativas em relação à premissa de que está havendo controle em relação a esse ou aquele tópico, mas no fundo não há qualquer monitoramento sobre o uso dos recursos, sejam eles humanos, materiais ou financeiros.

Devemos reclamar quando ‘latas de sardinha’ – que nos são enviadas – são impróprias para consumo e podem produzir efeitos colaterais em controle, em dinheiro, em tempo e em decisões tortas. Não há espaço nas Organizações para esse fluxo ‘Comercial’ que não agrega valor aos negócios e não ajuda a alimentar a cadeia cliente-fornecedor.  Não há espaço para a produção ou geração de coisas – ou de indicadores – que sabidamente não serão úteis para entender o passado ou para projetar o futuro.

Marcelino Tadeu de Assis
Gestão de Programas de Remuneração: Conceitos, Aplicações e Reflexões – Visão Generalista da Remuneração. Rio de Janeiro: Qualitymark. 2011. 392p.

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Marcelino Assis

Graduado em Ciências Administrativas, pós-graduado em Administração e em Educação a Distância, além de mestre em Administração e Desenvolvimento Empresarial.

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