Implantar a governança de tecnologia da informação (TI) é uma empreitada de longo prazo, que depende da cultura de cada organização e o mercado em que está inserido. Tentar simplificar como muitos consultores fazem é dar um tiro no pé. Mais do que pensar em processos, procedimentos, políticas, normas e metodologias, é preciso pensar na dinâmica entre as pessoas e departamentos da empresa. 

Levando em consideração empresas de pequeno e médio porte, muitas não possuem normas, procedimentos e regras claras, mas seu grande objetivo é atender as demandas de seus clientes. Algumas vão em busca das metodologias de mercado e as implantam como soluções de prateleira. 

Falo isso por ver que cada empresa tem sua cultura, seu modo de agir que foi implantado ao longo de muitos anos e transmitidos de forma tácita. Chegar com uma metodologia e tentar fazer a equipe aceitar “goela a baixo” é apenas criar um campo de resistência muito grande. 

Não tem como explicar no detalhe como se faz, esse é o tipo de projeto que você ganha experiência fazendo e observando os impactos dentro da cultura organizacional. Com bom humor e muito jogo de cintura, quero compartilhar 20 passos para a implantação de um programa de governança de TI (Ops! Lá vem textão). São eles e fiquem à vontade para complementarem: 

  1. Envolvimento da gestão no processo de implantação e patrocínio do projeto. Sem sombra de dúvidas um dos mais importantes. Quando temos um apoiador na alta gestão, a governança ganha força por ter profissionais em todos os níveis divulgando o processo de implantação.
  2. Definir o objetivo a ser atendido de preferência alinhada a estratégia da empresa e saber o valor da tecnologia para os resultados da empresa permitem que todos “comprem” melhor o projeto.
  3. Definir a matriz de responsabilidade e a estrutura da governança em seus relacionamentos com os interessados. Destacando inclusive o papel do apoiador e/ou patrocinador.
  4. Definir o programa de governança de TI, não necessariamente é preciso implantar tudo, cabe ao gestor avaliar e estruturar de acordo com o entendimento da estratégia e da cultura da empresa.  Lembre-se que não é metodologia de prateleira. Será que precisa ser tudo ao mesmo tempo? Podemos criar ondas de implantação?
  5. Implantar a estrutura básica da governança, como políticas e responsabilidades num primeiro momento. Faça uso da regra de Pareto, 20% da governança implantada pode resolver 80% dos problemas.
  6. Estabelecer modelo de direitos decisórios sobre investimentos, prioridades e orçamentos de TI. Importante saber onde cada um atua e qual o escopo de decisão. Em grandes empresas há regras quanto ao valor que cada um pode agir sem precisar escalar a decisão. Bom senso para não engessar o processo.
  7. Realizar mapeamento com base na estratégia do negócio e dos processos, é preciso ter foco de atuação com o programa de governança de TI.
  8. Estabelecer metas e indicadores de progresso e de resultado. Não adianta chegar no final da implantação para validar se foi satisfatório ou não. Desde o inicio é importante mapear os resultados e como cada etapa impacta as métricas.
  9. Estabelecer um roteiro de implantação, com ações de curto, médio e longo prazo. Algumas ações rápidas podem trazer ganhos imediatos para os envolvidos, que começarão a apoiar com mais afinco a implantação do projeto.
  10. Definir o plano do programa de governança com a seleção de que projetos e processos serão implantados e em que ordem. Penso que aqui ter um ROI calculado para cada projeto e processo é fundamental para a tomada de decisão.
  11. Acordar parcerias com áreas de auditoria, riscos, compliance e prevenção de perdas para mapear as maiores vulnerabilidades de TI. Eles podem ser seu aliado, lembro de uma estratégia que montei uma vez, de valorar cada problema mapeado pelas áreas de desenvolvimento, isso ajudou e muito a tomada de decisão dos gestores. Pior do que não ganhar, é perder por falta de uma boa estrutura de TI.
  12. Aprovar o programa de governança de TI para liberação de orçamento pela gestão. Sem isso nem preciso dizer, que não vai rolar mais nada. Não é mesmo?!
  13. Desenvolver plano de gerenciamento da mudança para suporte na implantação dos projetos. E se puder envolver alguém do RH melhor ainda, algumas áreas passam por uma grande transformação no seu modo de trabalhar, e com o RH envolvido, é possível atuar junto ao profissional para que ele não se sinta “desviado da função”.
  14. Para cada iniciativa do programa é preciso abrir um projeto e elaborar o plano de gestão. Senão vira uma bagunça generalizada, a gestão de cada projeto, dará a real visão de como anda cada etapa e o envolvimento de cada um.  Além de permitir a melhor gestão do conhecimento desse programa.
  15. Implantar ações do plano de gerenciamento da mudança. Não basta planejar, afinal no Power Point tudo funciona e lindamente. A questão está em como fazer cada coisa entrar em funcionamento quando deveria. E sendo sempre verificado o resultado de cada etapa implantada.
  16. Executar os projetos definidos para implantação do programa. Muitas vezes um projeto tem dependência direta de outro, se desde o inicio houve um acompanhamento formal, essa etapa de execução será bem-sucedida.
  17. Monitorar a execução dos projetos. Controlar sempre, apontar os fatos, causas e ações para cada desvio do planejado. Acionar o patrocinador e demais stakeholders sempre que for preciso.
  18. Avaliar os resultados dos projetos implantados. Medir, medir e medir. Nunca menospreze essa etapa de lições aprendidas, com o que deu certo, o que deu errado e quais as ações para corrigir. Só se aprende errando, então nada de caça às bruxas. Foque na solução.
  19. Executar plano de endomarketing de TI, divulgando os valores gerados. É muito importante mostrar os resultados. Muitas ações de TI são desconhecidas das demais áreas por serem obras de “encanamento”.  Por isso sim, propagandeie os ataques bloqueados do novo firewall, o aumento de performance do novo roteador e etc.
  20. Revisar e evoluir o programa. A evolução pode ser uma melhoria no que foi implantado, um novo projeto para atender a estratégia do negócio ou um novo processo que não foi ainda implantado. O importante é que a tecnologia não para de evoluir e a sua empresa também não. 

E se você pensa que todas as empresas já sabem do que falei acima! Você poderá se surpreender como muitas estão perdendo dinheiro, por não terem uma boa estratégia de TI. 


Renata V. Lopes

Atua há mais de 25 anos na área de Tecnologia da Informação com gerenciamento de projetos e equipes multidisciplinares, em grandes empresas como Grupo Gerdau, Lojas Renner, Hewlett-Packard, Rio2016 e Grupo Guanabara. Master coach, leitora compulsiva, blogueira, apaixonada por redes sociais e estudante em constante desenvolvimento, acredita na cooperação, colaboração e compartilhamento do conhecimento como forma de aprendizado.

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